Neste sábado (8), Lituânia, Letônia e Estônia deram um passo significativo rumo à independência energética ao se desconectarem totalmente da rede elétrica “BRELL”, que desde a era soviética ligava os três países à Rússia. Este desligamento, que ocorre antes de sua conexão com o sistema elétrico europeu no domingo (9), é visto como crucial para fortalecer a segurança energética dos Estados bálticos e eliminar os últimos vestígios da dependência soviética.
Apesar dos preparativos minuciosos, especialistas alertam para o risco de possíveis retaliações por parte da Rússia, que pode tentar explorar o período de transição com ataques cibernéticos ou sabotagens. “Estamos bem preparados, mas a situação permanece tensa”, afirmou Gert Auväärt, chefe do Centro de Segurança Cibernética da Estônia. “A transição foi planejada com cuidado e a probabilidade de grandes problemas é baixa, mas a Rússia pode tentar criar incertezas”, completou.
A Elering, operadora estatal de rede da Estônia, também se manifestou sobre o histórico desligamento, com Kalle Kilk, seu CEO, ressaltando que, apesar dos riscos inerentes a grandes mudanças técnicas, a transição foi meticulosamente planejada e deve passar sem grandes impactos para os consumidores. “O verdadeiro perigo não está no desligamento, mas em continuar conectado ao sistema russo”, declarou Kilk, enfatizando a necessidade de romper com a infraestrutura energética da era soviética.
A movimentação dos países bálticos não é apenas uma questão técnica, mas uma ação estratégica, com forte apoio da União Europeia, que investiu mais de 1,2 bilhões de euros na sincronização das redes. Desde sua adesão à UE em 2004, os três estados têm buscado cada vez mais alinhar suas infraestruturas com o restante do continente, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, que gerou receios de que os países bálticos também pudessem ser alvo de agressões russas.
Além dos riscos cibernéticos, os Estados bálticos se veem na linha de frente de uma ameaça híbrida, que inclui desde ataques a infraestrutura até espionagem e sabotagens, como os ataques a cabos submarinos no Mar Báltico. A Estônia, especialmente, tem enfrentado uma escalada de ciberataques desde o início da guerra na Ucrânia, com operações cada vez mais sofisticadas e direcionadas contra seus sistemas governamentais e empresariais.
A desconexão dos países bálticos da “BRELL”, mais de três décadas após o fim da União Soviética, é vista não apenas como um marco técnico, mas como um gesto simbólico de independência e resistência à Rússia. Segundo Andrius Tursa, consultor da Teneo, a medida representa o culminar de anos de esforços e investimentos para desvincular a infraestrutura crítica dos Bálticos da rede soviética, considerada uma vulnerabilidade para a segurança regional.
Com os sistemas energéticos dos Bálticos finalmente separados da Rússia, os países aguardam ansiosos por sua plena integração ao sistema europeu, um passo que reforçará sua segurança e autonomia energética, ao mesmo tempo em que representa um importante ponto de ruptura com o passado soviético. A contagem regressiva para a verdadeira “independência energética” chegou ao fim, mas o risco de retaliações e ameaças externas ainda paira sobre a região.
