Após a confirmação oficial do falecimento do Papa Francisco, aos 88 anos, o Vaticano entrou imediatamente em período de Sede Vacante, como é chamado o intervalo entre o fim de um pontificado e a eleição de um novo Papa. A morte do pontífice argentino, o primeiro jesuíta e latino-americano a liderar a Igreja Católica, marca o fim de um papado de mais de 12 anos, caracterizado por ênfase na misericórdia, justiça social e reformas internas.
Com a morte do Papa, o Camerlengo da Santa Igreja Romana – atualmente o cardeal Kevin Farrell – assume a administração temporária do Vaticano. Entre suas primeiras atribuições estão a verificação oficial da morte (que já foi feita), a quebra simbólica do anel do pescador (selo papal), (já foi feita), e a organização do funeral (em andamento), que deverá atrair líderes religiosos e políticos de todo o mundo.
Durante o período de luto, que dura oficialmente entre nove e treze dias, os cardeais do mundo inteiro chegam a Roma para participar do Conclave, cerimônia secreta e solene de eleição do novo Papa. O encontro acontecerá na Capela Sistina, onde 135 cardeais com menos de 80 anos votarão, em sucessivas rodadas, até que um deles receba dois terços dos votos.
Enquanto o mundo católico acompanha com atenção os ritos e cerimônias que se desenrolam, cresce a expectativa em torno dos possíveis nomes que poderão suceder Francisco. Entre os favoritos especulados estão cardeais provenientes da Ásia, África e América Latina — sinalizando o possível reforço de um papado com foco no Sul Global e continuação do trabalho de acolhimento iniciado por Francisco.
Dentre os “papabilis” cotados estão:
cardeal italiano Pietro Parolin, que desde 2013 atua como secretário de Estado do Vaticano – cargo que basicamente reúne as funções de um primeiro-ministro e um ministro das Relações Exteriores, além de ser considerado o “número 2” do papa.
cardeal italiano Matteo Zuppi, assim como Parolin, ele também carrega grande experiência diplomática em sua atuação na “Comunidade de Santo Egídio” – organização católica apelidada de “a pequena ONU de Trastevere”, em referência ao bairro romano onde fica sua sede. Por exemplo, em 1992, Zuppi foi um dos mediadores que alcançaram o acordo de paz para encerrar mais de 16 anos de uma guerra civil sangrenta em Moçambique. O cardeal também foi escolhido como o enviado de paz do Papa Francisco para lidar com a guerra na Ucrania.
cardeal Pierbattista Pizzaballa, ele comanda desde 2016 o Patriarcado Latino de Jerusalém – uma das mais importantes arquidioceses católicas, com jurisdição sobre a Palestina, Israel, Jordânia e Chipre. Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, ele recorrentemente fez apelos pela paz e chegou a se oferecer em troca da libertação das crianças sequestradas pelo grupo palestino. Ele também trabalhou com a Ordem de Malta – organização internacional católica – para enviar ajuda humanitária para Gaza.
cardeal filipino Luis Antonio Tagle é apontado entre os principais concorrentes. Arcebispo emérito de Manila e proclamado cardeal em 2012, Tagle já foi apelidado de “o Francisco asiático” por conta de sua relação com os pobres. O site “Crux”, que é especializado em cobertura da Igreja Católica e Vaticano, publicou um artigo, no qual descrevia o cardeal Tagle como “um moderado orientado à justiça social, que é mais conhecido pela sua defesa dos imigrantes e dos pobres, e cujo estilo de vida pessoal fala de modéstia e simplicidade”.
As listas de “papabilis” também trazem outros cardeais com chances de serem eleitos papa e que, assim como os últimos exemplos citados, estariam alinhados à ideia de continuidade do pontificado de Francisco e consolidação das reformas iniciadas. São eles o cardeal francês Jean-Marc Aveline, o maltês Mario Grech, que atua como secretário do Sínodo dos Bispos, o cardeal português José Tolentino de Mendonça, o americano Robert Francis Prevost e o britânico Arthur Roche.
Além da escolha do novo líder espiritual de mais de 1,3 bilhão de católicos, o próximo Papa herdará desafios significativos: a continuidade das reformas internas da Cúria Romana, o enfrentamento de crises de abusos, e a missão de manter a relevância da Igreja em um mundo em rápida transformação.
A Praça de São Pedro já começa a se encher de fiéis, jornalistas, curiosos e turistas, enquanto os sinos da Basílica ecoam em sinal de luto. O mundo aguarda, mais uma vez, pela fumaça branca que anunciará o novo sucessor de Pedro.